domingo, 8 de junho de 2008

Se alimentar bem vantagens


DE OLHO NA CIÊNCIA
Desnutrição em foco
por JAILTON MARTINS ALVES*

A desnutrição é um dos maiores problemas sociais e de saúde pública em países subdesenvolvidos. Incide em milhares de seres humanos, seja por causa da fome, da seca, de catástrofes, de doenças ou até de hábitos alimentares errados. Nos seres humanos, a faixa etária na qual o organismo é mais vulnerável aos efeitos nefastos da má-nutrição é o período que compreende do terceiro trimestre da vida intra-uterina até os dois a quatro anos de vida pós-natal. Esse é o denominado período de desenvolvimento rápido do cérebro.

O sistema nervoso humano apresenta suas maiores transformações estruturais e funcionais nessa fase. No mundo inteiro, o contingente de crianças menores de cinco anos desnutridas perfaz aproximadamente 200 milhões - número 25% maior que toda a população do Brasil, país que contribui também com essa cifra alarmante. Assim, os dois aspectos - a vulnerabilidade do sistema nervoso e o grande contingente de crianças desnutridas no mundo - indicam a dimensão do problema e de suas possíveis conseqüências para o futuro do planeta.

Para acompanhar o desenvolvimento intenso do organismo, particularmente nos lactentes e pré-escolares, faz-se necessário um aporte nutricional adequado (proteínas, carboidratos, gorduras, vitaminas e sais minerais). A desnutrição faz exatamente o contrário, uma vez que o aporte de nutrientes é insuficiente para as necessidades da criança em crescimento, comprometendo, assim, o corpo como um todo e, principalmente, o cérebro. Está aí o maior problema.

Os pesquisadores se perguntam: que conseqüências a desnutrição no início da vida acarreta para o cérebro? Serão as seqüelas da desnutrição irreversíveis? Um adulto que foi desnutrido na infância pode apresentar alterações de comportamento? Assim, o estudo dessas questões é tão importante que se torna de certo modo estratégico, sobretudo para países como o Brasil.

Segundo estudos científicos na área da neurociência, a desnutrição pode afetar o sistema de neurotransmissores do cérebro (substâncias químicas que participam da transmissão de informação no sistema nervoso). Esses mensageiros químicos, como também são chamados, estabelecem e tornam possível muitas funções cerebrais. A serotonina é um neurotransmissor e destaca-se por sua atuação no controle do comportamento agressivo na mesma espécie e entre espécies distintas. A serotonina parece inibir o comportamento agressivo.

A professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Jairza Maria Barreto Medeiros é mestranda do Laboratório de Fisiologia da Nutrição (Lafisn) do Departamento de Nutrição da UFPE, concluiu recentemente uma dissertação de mestrado sobre desnutrição e agressividade. A pesquisa, sob orientação do doutor Raul Manhães de Castro, consistiu em submeter um grupo de ratos a uma dieta deficiente em nutrientes e outro grupo, a uma dieta adequada às necessidades, equilibrada em todos os nutrientes. Isto foi realizado no período de desenvolvimento rápido do cérebro do rato, fase correspondente aos primeiros anos da vida do homem. Depois desse período, ela forneceu dieta equilibrada a todos os ratinhos, inclusive os que foram desnutridos.

Através de testes de agressividade com os ratos na idade adulta, a pesquisadora observou que as respostas obtidas com o animal desnutrido não foram diferentes das com o bem nutrido. Entretanto, ao contrário dos ratos bem nutridos, os ratos desnutridos não responderam a tratamento para agressividade com substância que, aumentando o nível cerebral de serotonina, diminuiria assim o comportamento agressivo. Os resultados deste trabalho foram apresentados na 50ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em julho, em Natal (RN).

As camadas socioeconômicas desfavorecidas são as mais atingidas pela desnutrição e pela violência. Extrapolando os resultados da pesquisa para seres humanos, deduz-se que a nutrição inadequada parece não interferir no comportamento agressivo adulto. Isto é, o indivíduo desnutrido na infância não será mais ou menos agressivo quando adulto. Contudo, uma desnutrição precoce pode interferir na resposta ao tratamento com medicamentos. O pesquisador Raul Manhães de Castro acredita que essas pesquisas ainda não são conclusivas mas indicam que os médicos devem analisar criteriosamente as prescrições de medicamentos a indivíduos que sofreram desnutrição na infância.

*Jailton Martins Alves é bolsista de iniciação científica do PIBIC/CNPq no Lafisn (UFPE)









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